Povos indígenas do Brasil e concepções enraizadas em livros didáticos de Geografia e História dos Anos Iniciais
DOI:
https://doi.org/10.46789/edugeo.v15i25.1528Palavras-chave:
Povos indígenas, Geografia e História Escolar, Livros didáticos, Lei 11.645/2008Resumo
Os povos indígenas do Brasil são tradicionalmente representados em livros didáticos por meio de concepções estereotipadas, enraizadas pelo processo de colonização e por noções etnocêntricas como a inferiorização e a homogeneização das populações originárias. Tais concepções têm sido rebatidas, principalmente por pesquisadores e professores da área de Ciências Humanas que promovem novas abordagens educativas respaldadas, inclusive, pela legislação brasileira. O presente artigo objetiva revelar parte dos resultados de uma investigação que analisou livros didáticos de Geografia e História dos Anos Iniciais e detectou a permanência de visões essencialistas, como a vinculação excessiva dos povos indígenas ao campo e a populações antigas, concluindo que a permanência da abordagem da miscigenação como fator fundante do povo brasileiro ainda perdura, assim como, a inexistência de uma democracia racial no país.
Palavras-chave
Povos indígenas; Geografia e História Escolar; Livros didáticos; Lei 11.645/2008.
Brazil's indigenous peoples rooted conceptions in Elementary School textbooks of Geography and History
Abstract
Brazil's indigenous peoples have traditionally been represented in textbooks through stereotyped conceptions, rooted in the colonization process and ethnocentric notions such as the inferiorization and homogenization of the original populations. These conceptions have been challenged, mainly by researchers and teachers in the Human Sciences, who are promoting new educational approaches backed up by Brazilian legislation. This article aims to reveal some of the results of an investigation that analyzed elementary school textbooks of Geography and History and detected the permanence of essentialist views, such as the excessive linking of indigenous peoples to the countryside and to ancient populations, concluding that the approach of miscegenation as a founding factor of the Brazilian people still persists, as well as the non-existence of a racial democracy in the country.
Keywords
Indigenous peoples; School Geography and History; Textbooks; Law 11,645/2008.
Pueblos indígenas del Brasil y conceptos enraizados en los libros de texto de Geografía y Historia de Primaria
Resumen
Los pueblos indígenas de Brasil están tradicionalmente representados en los libros de texto a través de concepciones estereotipadas, arraigadas en el proceso de colonización y nociones etnocéntricas como la inferiorización y homogeneización de las poblaciones originales. Tales concepciones han sido refutadas, principalmente por investigadores y profesores del área de Ciencias Humanas que promueven nuevos enfoques educativos apoyados, incluso, en la legislación brasileña. Este artículo tiene como objetivo revelar parte de los resultados de una investigación que analizó libros de texto de Geografía e Historia de primaria y detectó la persistencia de visiones esencialistas, como la excesiva vinculación de los pueblos indígenas al campo y a las poblaciones antiguas, concluyendo que aún persiste la permanencia del enfoque del mestizaje como factor fundacional del pueblo brasileño, así como la falta de democracia racial en el país.
Palabras clave
Pueblos indígenas. Geografía e Historia Escolar. Libros de texto. Ley 11.645/2008.
Downloads
Referências
ALMEIDA, Mauro William Barbosa de. O racismo nos livros didáticos. In: SILVA, Aracy Lopes da. A questão indígena na sala de aula: subsídios para professores de 1º e 2º graus. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 13-72.
ALVARADO, Lusmidia; GARCÍA, Margarita. Características más relevantes del paradigma socio-crítico: su aplicación en investigaciones de educación ambiental y de enseñanza de las ciencias realizadas en el Doctorado de Educación del Instituto Pedagógico de Caracas. Sapiens – Revista Universitaria de Investigación, Caracas, v. 9, n. 2, dez. 2008, p. 187-202.
ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Estudo de caso em Pesquisa e Avaliação Educacional. Brasília: Líber Livro Editora, 2008.
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2011.
BITTENCOURT, Circe Fernandes. História das populações indígenas na escola: memórias e esquecimentos. In: PEREIRA, Amilcar Araujo; MONTEIRO, Ana Maria (Org.). Ensino de história e culturas afro-brasileiras e indígenas. Rio de Janeiro: Pallas, 2013. p. 101-132.
BRASIL. Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 11 mar. 2008, Seção 1, p. 1.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Guia Digital PNLD 2019. Brasília, DF: MEC/SEB, 2019. Disponível em: https://pnld.nees.ufal.br/pnld_2019/componente-curricular/obras-interdisciplinares. Acesso em: 22 set. 2021.
CALLAI, Helena Copetti. (Org.). Educação Geográfica: reflexão e prática. Ijuí: Ed. Unijuí, 2011.
CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia, escola e construção de conhecimentos. 18. ed. Campinas: Papirus, 2013.
CHAVES, Viviana Elizabeth Jiménez; WEILER, Cornelio Comet. Los estudios de casos como enfoque metodológico. ACADEMO Revista de Investigación en Ciencias Sociales y Humanidades, Assunção, v. 3, n. 2, dez. 2016.
CUNHA, Manuela Carneiro da. Índios no Brasil: história, direitos e cidadania. 1. ed. São Paulo: Claro Enigma, 2012.
GASPARELLO, Arlette Medeiros. Livro didático e história do ensino de história: caminhos da pesquisa. In: GALZERANI, Maria Carolina Bovério; BUENO, João Batista Gonçalves; PINTO JR., Arnaldo (Org.). Paisagens da pesquisa contemporânea sobre o livro didático de História. Campinas: Paco Editorial, 2013. p. 19-34.
GÂNDAVO, Pedro de Magalhães de. A primeira história do Brasil: história da província Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil. Modernização do texto original de 1576. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.
FERNANDES, Florestan. O negro no mundo dos brancos. 2. ed. São Paulo: Global, 2007.
FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 51. ed. rev. São Paulo: Global, 2006.
GOBBI, Izabel. A Temática Indígena e a Diversidade Cultural nos Livros Didáticos de História: uma análise dos livros recomendados pelo Programa Nacional do Livro Didático. 2006. Dissertação (Mestrado). Centro de Educação e Ciências Humanas da Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2006.
GUIMARÃES, Selva. Didática e prática de ensino de História: experiências, reflexões e aprendizados. 13. ed. rev. e ampl. Campinas: Papirus, 2012.
LACERDA, João Batista. Sobre os Mestiços. In: PREMIER CONGRÉS UNIVERSEL DÊS RACES, jul. 1911, Londres.
LÜDKE, Menga; ANDRE, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. 2 ed. Rio de Janeiro: E.P.U., 2022.
MARTINÉZ, Juan Carlos Bel; RUBIO, Juan Carlos Colomer. Teoría y metodologia de investigación sobre libros de texto: análisis didáctico de las actividades, las imágenes y los recursos digitales en la enseñanza de las Ciencias Sociales. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 23, p. 1-23, 2018.
MARTINS, Maria Cristina Bohn. As sociedades indígenas, a história e a escola. Antíteses, Londrina, v. 2, n. 3, p. 153-167, jan./jul. 2009.
MEIRELLES, Victor. Moema. 1866. Óleo sobre tela. 130 cm × 196,5 cm. Museu de Arte de São Paulo (MASP). Disponível em: https://masp.org.br/acervo/obra/moema. Acesso em: 27 set. 2022.
MONTEIRO, John Manuel. Negros da Terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.
MONTEIRO, John Manuel. O desafio da História Indígena no Brasil. In: SILVA, Aracy Lopes da; GRUPIONI, Luís Donisete Benzi (Org.). A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. Brasília: MEC/MARI/UNESCO, 1995. p. 221-236.
MONTEIRO, John Manuel. Tupis, tapuias e historiadores: Estudos de História Indígena e do Indigenismo. 2001. Tese (Livre docência) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2001. 235 p.
MUNDURUKU, Daniel. Índio e indígena – Mekukradjá (2018). Itaú Cultural, 2018. 1 vídeo (5:32 min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=s39FxY3JziE. Acesso: 01 set. 2024.
MUNDURUKU, Daniel. O banquete dos deuses: conversa sobre a origem e a cultura brasileira. São Paulo: Global, 2009.
MUNDURUKU, Daniel. Tribo? Pode? Daniel Munduruku. 2024. 1 vídeo (1:21 min.). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Kwvzd1sfDMU. Acesso em: 20 jun. 2024.
PALHARES, Leonardo Machado. Entre o verdadeiro histórico e a imaginação criadora: ilustrações sobre história e cultura dos povos indígenas em livros didáticos de História. 2012. Dissertação (Mestrado em Educação e Inclusão Social) – Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2012.
PRINTES, Rafaela Biehl. Presença indígena nos livros didáticos de Geografia. Revista Brasileira de Educação em Geografia, Campinas, v. 4, n. 8, p. 195-220, jul./dez. 2014.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. 3. ed. São Paulo: Global, 2015.
RUDEK, Roseni; SOURIENT, Lilian; CAMARGO, Rosiane de; SANTOS, Wellington. Akpalô História e Geografia – Coleção Akpalô. 3º ano. São Paulo: Editora do Brasil, 2017a.
RUDEK, Roseni; SOURIENT, Lilian; CAMARGO, Rosiane de; SANTOS, Wellington. Akpalô História e Geografia – Coleção Akpalô. 4º ano. São Paulo: Editora do Brasil, 2017b.
RUDEK, Roseni; SOURIENT, Lilian; CAMARGO, Rosiane de; SANTOS, Wellington. Akpalô História e Geografia – Coleção Akpalô. 5º ano. São Paulo: Editora do Brasil, 2017c.
SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil – 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
SILVA, Giovani José da; COSTA, Anna Maria Ribeiro Fernandes Moreira da. Histórias e culturas indígenas na Educação básica. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2018.
TELLES, Norma. A imagem do índio no Livro Didático: equivocada, enganadora. In: SILVA, Aracy Lopes da (Org.). A questão indígena na sala de aula: subsídios para professores de 1º e 2º graus. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 73-90.
WITTMANN, Luisa Tombini. (Org.). Ensino (d)e História Indígena. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015.
YIN, Robert Kuo-zuir. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Proposta de Aviso de Direito Autoral Creative Commons
1. Declaro que o presente artigo é original, não tendo sido submetido à publicação em qualquer outro periódico nacional ou internacional, quer seja em parte ou em sua totalidade. Declaro, ainda, que uma vez publicado na Revista Brasileira de Educação em Geografia, o mesmo jamais será submetido por mim ou por qualquer um dos demais co-autores a qualquer outro periódico. E declaro estar ciente de que a não observância deste compromisso submeterá o infrator a sanções e penas previstas na Lei de Proteção de Direitos Autorias (Nº9609, de 19/02/98)
2. A Revista Brasileira de Educação em Geografia tambem segue a "Proposta de Política para Periódicos de Acesso Livre".
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).